Segundo dados levantados pela ANP (Agência Nacional de Petróleo), no ano de 2017 o número postos de bandeira branca, ampliou de 17.134 para 17.960 em relação a 2016, ocupando cerca de 43% do mercado.
Além disso, muitos postos têm aderido a operar sem destacarem em suas fachadas as marcas, Ipiranga, BR, Ale, Shell ou qualquer outra relacionada a alguma distribuidora, tornando-se assim postos independentes. Mas como se explica isso?
Neste post, será abordado algumas dúvidas pertinentes sobre o assunto. Vamos lá!
Como é a legalidade dos postos de bandeira branca
Se tratando de legalidade dos postos de bandeira branca. Vale ressaltar que a Resolução ANP nº 41, de 2013, estabelece que os requisitos que devem ser cumpridos por uma revenda varejista de combustíveis automotivos para ser autorizada a atuar no setor.
Segundo o artigo 22 da citada Resolução, os postos de combustíveis são obrigados a adquirir combustível automotivo de distribuidor autorizado pela ANP para exercer a atividade. Com isso, não define a obrigação de vincular a própria revenda a qualquer marca. Para isso, será exigido a identificação junto à bomba de combustível a origem dos produtos que está revendendo.
Desde que sigam o que estabelece o Artigo e que ofereçam combustíveis de qualidade, os postos de bandeira branca atuam em conformidade com a lei.
Optando pela bandeira branca
Se optar por atuar com bandeira branca, o posto abre mão de uma série de benefícios que o vínculo às grandes marcas proporciona. A começar pela visibilidade que recebem nas campanhas publicitárias e nas ações de marketing, o que favorece diretamente às revendas.
Ainda, os postos de bandeira branca perdem o acesso à estrutura das distribuidoras, que oferecem suporte na manutenção de equipamentos, no transporte dos combustíveis, no planejamento das instalações, entre outras vantagens.
Além disso, várias bandeiras mantêm marcas próprias de lojas de conveniência — como a Shell Select e a Am/Pm, da bandeira Ipiranga. Portanto, quando optam pela bandeira branca, os postos também não podem se beneficiar dessas franquias que, por si, representam negócios importantes.
Então, o que leva um empresário a abrir mão de uma marca de sucesso e das vantagens que ela oferece? A resposta é muito simples: a possibilidade de comprar combustíveis por preços mais baixos, o que aumenta a competitividade do estabelecimento.
Agindo dessa forma, o revendedor de bandeira branca deixa de pagar o valor que a marca das grandes distribuidoras agrega ao combustível e consegue revender por preços mais baixos, atraindo mais compradores, o que aumenta o faturamento. Ao mesmo tempo, é possível manter uma margem de lucro interessante, sem onerar o consumidor, o que também justifica a escolha.
E quanto a fidelizar os clientes, já existem no mercado programas de fidelidade exclusivos para postos de combustíveis. Enquanto um posto bandeirado acaba se tornando refém dos planos das distribuidoras, os postos de bandeira branca podem fidelizar seus clientes no próprio posto, tendo maior chance de reter e se relacionar diretamente com seu cliente.
A fama da baixa qualidade
A história dos postos sem bandeira começou no início dos anos 1990, quando o governo Collor desregulamentou o setor de combustíveis e liberou os preços na distribuição e nas bombas. Na esteira dessa nova realidade, surgiram centenas de distribuidoras que não tinham nenhum vínculo com as marcas tradicionais.
Como os critérios técnicos e econômicos para o setor não foram redefinidos, grande parte das novas empresas passou a atuar de maneira indisciplinada, sonegando impostos e adulterando combustíveis. Mesmo assim, elas começaram a conquistar uma importante fatia do mercado, o que, naturalmente, não agradou às empresas tradicionais.
Afinal, com a competição desigual, as detentoras das marcas famosas que atuavam na legalidade tiveram de enfrentar significativas perdas econômicas e financeiras.
Diante desse quadro, as empresas responsáveis por marcas reconhecidas iniciaram o contra-ataque. Para tanto, bastou relacionar os preços baixos dos postos independentes aos produtos de baixa qualidade, que eram misturados a substâncias proibidas, o que, de fato, acontecia com frequência.
Assim, a fama da baixa qualidade logo foi associada aos postos de bandeira branca. Todavia, a partir do marco regulatório do setor de combustíveis, definido pela Lei Federal nº 9.478, de 1997, e da criação da ANP naquele mesmo ano, foram iniciados os esforços para devolver a moralidade para o setor dos combustíveis. O primeiro passo foi concentrar na prevenção à adulteração de combustíveis.
Aproveitando essa oportunidade, as distribuidoras tradicionais buscaram reforçar ainda mais a ideia de que adquirir combustíveis nos postos bandeirados era garantia de qualidade para o consumidor. Porém, com o tempo, essa realidade se transformou bastante, como veremos a seguir.
Crescimento de postos com bandeira branca
A partir do marco regulatório, quando as irregularidades do mercado passaram a ser reprimidas e punidas, a capacidade de atuação dos pequenos distribuidores que trabalhavam de maneira ilegal foi bastante limitada. Com isso, as empresas detentoras das grandes marcas recuperaram boa parte do mercado perdido.
Porém, a instabilidade dos anos 1990 já havia causado alguns danos para empresas internacionais importantes, como a Esso e a Texaco, que resolveram se retirar do mercado brasileiro. A Esso, por exemplo, foi adquirida pela Cosan, enquanto a Texaco foi comprada pelo Grupo Ultra e, mais recentemente, tentou sem sucesso o controle da Ale Distribuidora.
Dessa maneira, o mercado nacional de combustíveis foi se acomodando em um novo paradigma, de maior participação das empresas nacionais e também de estabelecimento da presença de distribuidoras independentes mais sólidas do que aquelas que atuavam no país nos primeiros momentos. Contudo, as oportunidades de novas aquisições permanecem, com destaque para aquelas relacionadas às distribuidoras de atuação regionalizada e de escala reduzida, o que reforça esse segmento.
Outro aspecto que precisa ser considerado e que é favorável ao mercado das distribuidoras independentes diz respeito à infraestrutura logística de distribuição e de revenda de combustíveis. É preciso considerar que a expansão dessa infraestrutura depende de grandes investimentos, que precisam ser realizados em longo prazo.
Diante disso, é mais natural uma empresa regional atender à demanda da área onde atua do que outra, de fora, construir uma nova base de distribuição. Considerando que o Brasil é um país de vasta extensão territorial, onde ainda há possibilidade de expansão, a perspectiva da atuação das distribuidoras de menor porte nos vários mercados existentes e que não são atendidos de maneira consistente pelas grandes marcas é bastante reforçada.
Em sentido oposto, contrariando toda essa tendência favorável às distribuidoras independentes, há o fato do negócio de distribuição de combustíveis exigir economia de escala. Isso o torna mais apropriado para as empresas que conseguem cobrir um território maior, com capacidade para ofertar ao consumidor um atendimento personalizado e um portfólio de produtos mais diversificado do que as independentes conseguem oferecer.
Contudo, como atualmente há no Brasil um ambiente de negócios que, de modo geral, é positivo para a distribuição de combustíveis, a competitividade se torna mais ordenada. Dessa forma, as distribuidoras e as revendedoras independentes continuam alcançando novos mercados.
Podem existir algum riscos, os postos de bandeira branca?
A atuação das grandes marcas nacionais e estrangeiras que respondem por grande parte da distribuição de combustíveis no Brasil e que detêm um poder econômico consistente, por muito tempo trabalhou para criar duas imagens básicas. A primeira afirma que o combustível vendido em um posto de bandeira reconhecida, certamente, possui qualidade elevada.
A segunda tenta levar o consumidor a acreditar que o contrário também é verdadeiro: abastecer em postos de bandeira branca é certeza de problemas com combustíveis adulterados.
Afinal, aquela ideia construída nos anos 1990, que vinculava os preços baixos à adulteração dos produtos das revendas sem bandeira, ainda permanece presente no imaginário de muitas pessoas.
Porém, os fatos demonstraram que nem sempre a adulteração dos combustíveis está relacionada aos distribuidores de bandeira branca. Afinal, em várias situações, postos bandeirados foram flagrados vendendo combustível adulterado, o que desconstrói completamente as teses defendidas pelas grandes marcas.
Vale mencionar um fato recente, ocorrido em 2016, no Rio de Janeiro. Na ocasião, vários postos que ostentavam bandeiras de três grandes marcas de destaque no mercado nacional foram flagrados na Ilha do Governador vendendo 16 milhões de litros de etanol contaminado com metanol — substância proibida, que é altamente tóxica e pode causar sérios problemas à saúde.
O caso foi tão grave que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro pediu a cassação da Inscrição Estadual das empresas, o que, na prática, significará que elas devam ser fechadas, caso o pedido seja acatado pela Justiça.
Por isso, fica claro que abastecer em um posto de marca reconhecida não é, por si, uma garantia irrefutável de que o veículo está recebendo um combustível de boa qualidade. Em contrapartida, a bandeira branca não deve ser vista como um sinônimo de combustível adulterado.
Aliás, é importante observar que, como têm que se esforçar muito mais para se firmarem nas praças onde atuam, os revendedores dos postos de bandeira branca, em grande medida, tendem a aumentar o rigor na seleção dos combustíveis que adquirem. Para tanto, eles não observam somente o preço dos produtos, mas também exigem qualidade dos fornecedores. Dessa forma, o consumidor se vê beneficiado pela combinação entre preço baixo e combustível de qualidade boa, o que é essencial nos dias de hoje.
Portanto, vender ou não um combustível adulterado não está relacionado à presença ou não de uma marca na fachada do posto. Essa decisão se vincula exclusivamente ao caráter do empresário.
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Fonte: blog.clubpetro.com.br