Tosse, perda da força, queimação. Os sintomas poderiam ser de uma doença, mas na verdade são sinais de problemas com o carro, após abastecer com combustível de qualidade duvidosa. Os órgãos atingidos são velas, bicos injetores, sensor de oxigênio, catalizador, bomba de combustível, filtro e todo o sistema de escape.
Os mecânicos afirmam que sempre que há aumento do preço dos combustíveis, percebe-se uma piora na qualidade do produto. As principais alterações são mistura de etanol acima do percentual permitido pela legislação (entre 22% a 27%) e adição de água. Os primeiros sintomas são falha ou perda de potência do motor.
Nos últimos meses, os motoristas têm recorrido cada vez mais às oficinas mecânicas para resolver questões, como perda de potência e falhas no motor. Em casos extremos, ocorre o que os mecânicos chamam de “grilar” : o motor faz barulho, em função das batidas de pino dos pistões. O professor Edison Bonifácio, coordenador dos cursos técnicos automotivos do Senai Londrina, explicou que o combustível de baixa qualidade ou adulterado não consegue ter uma queima eficaz ou então queima no momento errado, prejudicando o funcionamento das peças.
O sistema para o carro andar é simples: a combinação de combustível, ar e velas incandescidas provoca a combustão que empurra os pistões e aciona o motor. “Quando o combustível é ruim, a queima ocorre mais fraca e o motorista precisa acelerar mais para ter o mesmo rendimento”, explicou o professor. Essa aceleração pode representar uma perda de até 30% do rendimento do veículo, ou seja, mais gasto de combustível.
Segundo Bonifácio, quando o motor começa a “grilar” significa que a queima está ocorrendo antes da hora. A combustão ocorre no momento em que o pistão está subindo, forçando o pino. Isso pode acarretar em quebra do pino. A adição de substâncias estranhas à gasolina ou ao etanol pode formar borras, que produzem aquecimento excessivo no motor, causando o derretimento do pistão e das velas. “É comum formar borra no óleo lubrificante e isso pode carbonizar o motor e cabeçotes”, disse o professor.
No Bolso
O aumento na proporção de etanol na gasolina, provoca a perda da autonomia do veículo. A adição de água, além de reduzir a potência da queima, também oxida os componentes, principalmente bicos injetores e bomba de combustível. Os problemas são menores nos carros flex, pois estão preparados para resistir à oxidação do álcool. Mas em um modelo movido apenas a gasolina, o álcool anidro adicionado ao combustível provoca a perda de rendimento.
A gasolina batizada pesa no bolso. A limpeza de bicos, por exemplo, custa em média R$ 160. E conforme aumentam os problemas, crescem exponencialmente os custos. “O pessoal reclama muito da qualidade da gasolina. Parece que depois que aumentou o preço, aumentaram também os problemas”, afirmou o mecânico José Luiz de Faria, da Mecânica Quatro Rodas. Segundo ele, os relatos dos clientes são parecidos: “o carro está falhando depois que abasteci”.
Ele conta que é comum encontrar resíduos em todo o sistema de combustível. “A gasolina vai passando e deixa uma borra, que suja tudo. Precisamos tirar a gasolina velha e limpar. Às vezes tem que trocar vela e até a bomba de combustível”, disse.
Teste de Qualidade
Os problemas resultantes de combustível batizado não são cobertos pelas garantias de fábrica, afirmou Paulo César Martins, chefe de oficina da Nicenter Concessionária Nissan. Ele aconselha que os consumidores peçam os laudos de qualidade que os postos são obrigados a fazer e também, em caso de dúvida, exijam um teste de qualidade.
O “teste da proveta” mede a porcentagem de etanol anidro misturado à gasolina (atualmente em 27%, com tolerância de 1% para mais ou para menos). No caso do etanol hidratado, o adequado para motores deve ter teor alcoólico entre 92,5% e 95,4% e no caso do etanol Premium entre 95,5% e 97,7%. Para conferir essa especificação, basta consultar o termodensímetro, equipamento obrigatório que deve estar fixado nas bombas de etanol.
O nível indicado pela linha vermelha, que precisa estar no centro do densímetro, não pode estar acima da linha do etanol. Deve-se observar também se o etanol está límpido, isento de impurezas e sem coloração alaranjada. A ANP (Agência Nacional de Petróleo) realiza fiscalizações periódicas nos postos de combustível. De acordo com a agência, as infrações relativas à qualidade dos combustíveis caíram de 12%, em 2016, para 8% em 2017.
Hora de escolher em qual bomba abastecer
Com a flutuação do preço dos combustíveis, principalmente com a gasolina ultrapassando a barreira dos R$ 4, o consumidor tem feito malabarismo na hora de encher o tanque. E, às vezes, a escolha por uma gasolina de melhor qualidade perde para o preço na bomba. Hoje, o consumidor tem a disposição a gasolina comum, aditivada, premium ou podium.
A aditivada recebe aditivos que ajudam na manutenção do motor. Um dos aditivos mais comuns são os detergentes dispersantes, que têm a função de manter limpo o sistema de alimentação do combustível. Os detergentes dispersantes reduzem a possibilidade de entupimentos do sistema de alimentação e acúmulo de depósitos, causados pela queima do combustível no motor. Para diferenciar os produtos, as distribuidoras geralmente adicionam corante na gasolina aditivada.
Em relação ao desempenho e ao consumo, não há diferença entre a comum e a aditivada. Ambas têm a mesma octanagem. A vantagem está na redução das revisões. Usando uma gasolina aditivada o prazo para fazer limpeza de filtro, bicos, troca de bomba será maior.
“O motorista precisa analisar essa questão. Às vezes, ele economiza na hora de abastecer, mas lá na frente gasta mais com uma troca dos bicos. É uma conta que, muitas vezes, na fila do posto o consumidor não se atenta”, afirmou o professor Edison Bonifácio, coordenador dos cursos técnicos automotivos do Senai Londrina.
Agora, a questão é diferente em relação às gasolinas premium ou podium. Elas são mais indicadas para carros com motores modernos com taxa de compressão alta. O rendimento do veículo será maior. “Em um Fusca, por exemplo, a gasolina podium não apresentará diferença de potencial em relação à comum. Mas em motor moderno, como por exemplo, os Firefly, que apresentam uma taxa de compressão elevada (13,2;1), o rendimento será maior”, explicou Bonifácio.
A troca da gasolina comum pela aditivada ou pela premium e podium pode ocorrer em qualquer momento, mas o professor aconselha fazer a substituição com o tanque baixo. (A.M.P).
Referência: Folha de Londrinha